terça-feira, 13 de setembro de 2011

Hoje eu acordei pra mais um dia, um dia qualquer - pensava eu. Mas derrepente me olhei no espelho e não gostei nada do que vi. Um olhar fraco, triste, cansado...marcas de expressão contornavam um olhar de apenas vinte e cinco anos de vida. Na boca faltava um sorriso. Aquele sorriso tão característico. Sem perceber aquele olhar foi penetrando e quando menos esperei eu me via como numa câmara de raio-x.
Que cabeça confusa, que monte de pensamentos, imagens, palavras...quanta informação corria entre aquele conjunto de neurônios que cobriam a massa cinzenta, e esta por sua vez, parecia trabalhar exaustivamente há dias sem um descanso sequer. Parecia tão cansada mas não deixava de trabalhar...pulsava como um tambor recebendo porradas. E era bem isso que a grande massa vinha e vem recebendo há um bom tempo. Já se irritara várias vezes com a vida que não cansa de lhe flagelar e sem suportar tudo sozinha joga grande parte das agressões que recebe na conta de uma pequena massa vermelha que funciona logo abaixo dela.
Um coração magoado, sofrido, que já não sente mais vontade nenhuma de continuar trabalhando como um escravo recebendo tanto açoite.
Voltei a olhar-me nos olhos ainda enxergando tudo pelo lado de dentro e não reconheci naquele espelho o homem que eu conhecia de anos e anos. Foi então que lembrei-me do que me havia feito acordar daquele jeito... Era triste admitir, mas eu já não me sentia mais tão homem assim.Um lixo! Era isso que eu enxergava naquele reflexo. Mentia para mim mesmo e para os outros que era feliz, mas ninguém nunca me enxergou da forma que eu estava me enxergando naquele momento. Por dentro deixei acumular sujeiras, poeira, morfo... Como num guarda-roupas bagunçado que não é arrumado há muito tempo pelo seu dono. E...uma lágrima desvencilhou-se daquele olhar...parecia o fim para mim. Não tinha mais o que piorar naquele semblante tão maltratado e destruído. Alguém já teve a sensação de não se sentir um ser humano? Alguém já se olhou no espelho e teve a sensação de enxergar um nada? Um vazio? Realmente na minha frente não estava aquele homem que eu conhecia.
Fiquei ali ainda por alguns segundos ou minutos...sei lá!Qualquer tempo que se passou foram eternos enquanto as lágrimas iam me lavando os olhos. E enquanto rolavam pelo meu rosto e corpo, pareciam levar consigo uma infinidade de sujeiras que se acumulou durante muito tempo, pois quando tocavam o chão já estavam negras.
Olhava aquilo e não podia acreditar que tudo aquilo saía de mim. Mais uma vez lembrei-me do guarda-roupas cheio de sujeiras. E era isso! Era isso que estava me deixando tão sujo. As sujeiras que eu vinha guardando de longas caminhadas. Poeira, lama, lixo...o que eu encontrava em meu caminho guardava em minha mochila e trazia pra casa. Aqui eu jogava tudo dentro do meu guarda-roupas e acabava por sujar as minhas roupas...meus saparos...meus acessórios...
Papéis passados, lixo acumulado, roupas sujas, parasitas...era disso que eu estava enchendo o meu quarto. O que era azul tornou-se cinza, negro, sem vida, sem cor... A bagagem já está pesada demais e agora eu já não posso mais carregá-la. Aquele cara do espelho não podia continuar assim.Sufocado entre dores e sofrimentos que não lhe pertencem...


Foi então que eu decidi. Hoje é o dia da faxina geral no meu guarda-roupas...
Comecei pelos papéis passados já que acumulavam traças que por sua vez já avançavam para minhas roupas. Retirei de lá toda a sujeira de rancor que se apossava dos meus casacos, a depressão que envolvia meus bonés e me pesavam a cabeça também foi retirada com prioridade. Os medos entre minhas calças foram sendo eliminados pouco a pouco. As mentiras estampadas em minhas blusas foram perdendo suas formas. O ódio não tem  mais lugar nas minhas gavetas, raiva e rancor também não. Mas o que foi mais difícil mesmo foram as pedras acumuladas em meus calçados. Tantas pedras pesadas que fui encontrando no caminho, muito pesadas e difíceis de transportar, mas eu precisava retirá-las daqui. Não há mais lugar para elas aqui. Ou elas ou eu...

E assim fui fazendo uma nova arrumação no guarda-roupas da minha vida.
Novas roupas, novos calçados, tudo limpo e com cheiro de novo. Decidi que não quero mais trazer para dentro dele coisas que não vão me acrescentar em nada e só vai torná-lo cada vez mais sujo e pesado. Hoje foi o dia de retirar de dentro dele, inclusive, minha felicidade, que estava suprimida debaixo das pedras dos meus sapatos. Esta eu estampei em meu peito e agora vai andar sempre comigo, porque hoje é o meu dia de ser feliz, e quero que esse dia se repita por todos os outros restantes em minha vida. Gavetas guardando boas lembranças, calças perfumadas de amor, casacos cheios de honestidade, bonés com paz e tranquilidade pra cabeça, blusas com educação e respeito e aos meus pés carinho e atenção.

O espelho? Quebrei, também não estava me fazendo bem. Não refletia o que eu precisava enxergar. Encontrei um outro onde eu olho e consigo me enxergar de verdade. Enxergo quem eu realmente sou...

Ousaria mudar o início deste texto e dizer que hoje eu acordei o homem mais feliz do mundo. Eu apenas não tinha descoberto isso ainda...

E esse sorriso?
Que continue com essa sinceridade enquanto em mim ouver o sopro da vida.



por Deyvid Guedes em 13 de setembro de 2011

3 comentários:

  1. vc escreve realmente muito bem! Gostei da sutileza do texto, trata algo pesado como uma leveza absurda, quase da pra sentir a limpeza das palavras e , principalmente, do pensamento. dificil ver textos tao claros quanto o seu ^^

    Um brinde a sinceridade ! E quanto ao sopro de vida, que seja em abundancia enquanto durar =D

    PS: eu disse que iria postar HUAHA
    PS2: Já está nos favoritos, passarei a acompanhar ^^

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  2. Curti... Curti...

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  3. Cara!!! Parabéns esse foi um dos melhores textos q já vi!
    Essa foi uma bela historia de vida q acho q todos nós precisamos refletir e fazer o mesmo....

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