terça-feira, 4 de outubro de 2011

Um Conto sem um ponto...

      E mais uma vez ele acordara no meio da noite e saía de casa na ponta dos pés para que nínguém percebesse. Cruzava o quintal, passava pela cerca de arame farpado e madeiras caída que já não servem para proteger mais nada. E ia buscar o caminho já traçado em meio a todo aquele matagal e seguia mata adentro. Todos os dias percorria o mesmo caminho para encontrá-la. Andava alguns minutos e enfim chegava no clarão aberto em meio a capoeira. Ainda estava tudo lá, do mesmo jeito que deixara na noite anterior. O banquinho improvisado feito de um pedaço de tronco, a fogueira apagada... O local que ele preparara para encontrar a sua doce amada estava do mesmo jeito que a dois meses atrás, quando se viram pela primeira vez. A lua ousava mostrar-se entre as árvores e emprestava seu brilho para cintilar as folhas, completando o cenário.
      Juntou alguns gravetos e galhos, acendou de novo a fogueira e sentou-se no tronco para esperá-la. Fazia muito frio aquela noite, mas só em pensar que iria encontrá-la seu coração já se aquecia e queimava seu corpo.. Esperava por ela lembrando de todos os momentos felizes que já lhe proporcionara. E alí sentado diante da madeira que se consumia, ia pensando na vida.
      A fogueira lhe lembrava o forno a lenha que animava as festas da família de sua infência. Se reuniam em torno do fogão de lenha para as comemorações familiares e davam boas risadas em torno dele. Eram muitos felizes. Sonhava com o dia que pudesse fazer o mesmo com a sua amada e seus descendentes...
      Mas as horas se passavam e nada dela chegar. De repente um barulho no mato...alguém se aproximava. Seu coração saltava de ansiedade. Controlava-se para não correr ao encontro. Mãos suadas...arrepio frio na coluna... E quando o barulho se tronou mais próximo eis que surge do meio da mata... Era ela... Uma guaxini fêmea que procurava algum alimento para seus filhotes recém paridos.
      Decpção! Voltou a sentar-se em seu toco. Com um galho brincava com a fogueira e via a chama hora mais intensa e hora quase se apagar. Juntou ainda alguns galhos alí por perto para tentar manter a chama acesa e ainda ficava na esperança de vê-la chegar a qualquer momento. Assim havia sido em todas as noites anteriores. Mas parece que mais uma vez ela não viria...
      Começara a acreditar que aquele primeiro encontro não passou de uma doce ilusão. Mas parecia ser tão real. Tudo foi tão intenso... Não pode ter sido fruto de sua imaginação. Ele nem tinha imaginação para isso tudo. Mas então porque nunca mais ela voltara? Será que não foi tão bom para ela? Mas ele tinha certeza que ela também pensava nele... Mas ela não voltava mais ali.
      O céu começava a clarear e ele triste, desiludido, via que já estava na hora de partir. A fogueira, ainda queimava, mas ele dava as costas para ela antes que visse ela virar cinzas. É isso o que acontece qando não se mantém a chama acesa, sem combustível o fogo vira apenas cinzas... Voltava pelo mesmo caminho pensando em nunca mais passar por alí. Mas sabia que mentia pra si mesmo, pois no dia seguinte estaria alí para tentar mais uma vez. Sabia que mesmo magoado ainda tinha esperança de reencontrá-la e falar todas as palavras que ele vem guardando há tempos.
     Chegou em casa e com o corpo pesado apenas se jogou na cama e adormeceu. Mais uma vez tinha trocado o dia pela noite por causa dela...e ela não estava nem aí. Mais uma vez tinha trocado tantas outras coisas por ela e ela nem percebera. Não foi ao seu encontro para que ele pudesse lhe falar. Adormeceu e pegou num profundo sono, tão pesado que quando acordou jurava que tudo não passara de um pesadelo sonho. Mas ao olhar em sua cama via o mato seco que trouxe em sua roupa...na pele o cheiro da fumaça que o contornou durante toda a noite. Nas suas mão uma rosa...alguém havia deixado ali...só podia ter sido ela o babaca se iludia. E mais uma vez ele prometia pra si mesmo que voltaria na noite seguinte para encontrar a sua amada que lhe deixara um convite...a rosa...que era vermelha...



Por Deyvid Guedes em 04 de setembro de 2011

1 comentário:

  1. sabe o que eu mais gosto nos poetas? eles muitas vezes tornam o texto tao subjetivo, que todas as pessoas que lerem vao se refletir naquele texto. Como se o sentimento com o qual o texto foi escrito fosse, tambem, meu. Uma apropriaçao dos sentimentos embutidos nas palavras, como se voce escrevesse por voce e , igualmente, por mim ! ^^
    belo texto

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