quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O que vi da vida...

   Vi um tempo passar arrastado, numa infância que não tinha mais fim. "Quero ser grande"-pensava eu, sem saber que maldição professava. Tinha todo o tempo do mundo e este era favorável à minha feliz rotina. Brincava do entardecer até me cansar, e quando já não me aguentava mais ia para casar tomar um belo banho e desabar sobre a cama. Um sono tão pesado que minhas noites pareciam uma eternidade. Sonhava...e sonhava...e sonhava... Quanto tempo eu tinha para sonhar! E nada de interromper meus sonhos na melhor parte com o ruído estridente de um despertador urrando nos meus ouvidos..

   Ah o tempo!

   Senhor de todas as coisas, que não dorme e não deixa de agir sobre nós, um instante sequer. Ele que era ao meu favor, agia sobre mim sem que ao menos eu percebesse. E na minha pura inocência pedia a Deus vez ou outra que o tempo passasse mais rápido. Me parecia tão atraente a vida de um adulto. "Talvez eu possa brincar a noite toda sem minha mãe me chamar pra casa. Os adultos não têm hora para chegar!", me iludia. Mal sabia eu que na vida adulta não teria mais tempo de sonhar, e que as noites intermináveis seriam noites mal dormidas, quando a falta de tempo nos enche a cabeça.

      Hoje peço ao tempo para se arrastar, mas ele não me ouve. Quero voltar a ser criança e ter mais tempo pra brincar. Mas a seriedade me toma tanto tempo que às vezes até me esqueço do meu tempo de criança...

   Ah o tempo!

   Tempo este que não volta jamais. Tempo das aventuras adolescentes. O primeiro beijo, o primeiro cigarro, a primeira bebida, o primeiro porre, o primeiro amor... Namoros escondidos...becos, vielas, ruas escuras, muros, casas em construção, o banquinho da praça. Quem nunca viveu essa realidade? O mundo das descobertas. Tantos encontros num encontro consigo mesmo. Sempre era hora e todo lugar era lugar. Minutos intermináveis. "Será que vem vindo alguém?" Era a adrenalina que tornava cada momento mais gostoso. Já hoje...a falta  de tempo faz namoros (ou até mesmo casamentos) caírem na rotina. Nada é mais como no primeiro encontro. Sinto saudades de voltar nesse tempo. E fazer tudo de novo, mesmo que escondido, para tentar aproveitar melhor meu tempo. Quando não se imagina o próximo encontro cada um parece ser o último e não há mais tempo a se perder. Peço ao tempo que volte e demore só mais um pouquinho a passar...muitos muros ainda precisam me conhecer.

   Ah, o tempo!


   Hoje na vida adulta nos tornamos escravos do temível tempo. "Preciso de um tempo para isto, preciso de um tempo para aquilo, quero fazer tanta coisa e não tenho tempo..." E quando menos esperamos somos nós que estamos pedindo tempo ao tempo. E que tempo é este se não temos tempo a perder? Quanto tempo ainda temos?

   Ah, o tempo!

   É dura a vida de adulto! Conviver com o tempo sem aceitá-lo é duro demais. Não saber administrá-lo nos acorrenta aos ponteiros que parecem nos congelar com suas voltas hipnóticas. E quando nos damos conta...o tempo passou e a gente nem viu. Passou e não pudemos aproveitá-lo da
forma que gostaríamos ou poderíamos. Será que estamos mesmo perdendo o nosso tempo? Ou será que estamos ganhando o tempo?

   Ah, o tempo!

   E quando o nosso tempo parar de vez? O que poderemos dizer que vimos dessa vida? Tempos perdidos valerão a pena? Cada tempo foi aproveitado de forma única? Ou o nosso tempo será apenas um tempo qualquer que se passou e não valorizamos cada segundo que nos foi dado de presente?

   Tem horas em que o tempo voa e não conseguimos acompanhá-lo, mas tem horas que frações de segundos parecem uma eternidade.

   Ah, o tempo!

   Preciso aprender a conviver com o meu tempo. É a única saída que me resta, buscar uma perfeita harmonia em nossa relação. Escravo do tempo me rendo à sua ação e espero quê novos tempos ele prepara pra mim...


   Tempo, tempo, tempo... Ah, o tempo!!!


Por Deyvid Guedes em 26 de setembro de 2011

3 comentários:

  1. Apesar de ficar extremamente confuso, também gosto de pelo menos, tentar entender o tempo. Sou muito ansioso, e conviver com isso é quase pertubador. Então, nada melhor do que deixar o TEMPO passar, seja lento ou ''à milhão'', o que vale é esperar mas sempre tentando fazer o melhor. Agora, que de vez em quando dá uma saudade absurda da infância, ah, isso dá. Abraço irmão, tú manda muito!!!

    ResponderEliminar
  2. Leitura de qualidade! Na minha opinião o tempo é um escroto que é sempre do contra. Mas dizem que, ao envelhecermos, fazemos as pazes com o dito cujo e a palavra tempo nos some do vocabulário (talvez por não termos muito) e é substituída pela palavra sabedoria. Por vez, escrevi em um de meus poemas que com o tempo nós mesmos nos tornamos o Tempo. Talvez seja verdade, talvez não. Só o tempo dirá...

    ResponderEliminar