terça-feira, 22 de junho de 2010


Daqui do horizonte eu avistei o menino na beira da praia... Eu até queria brincar com ele, que dentre uma onda e outra levantava sempre com um sorriso único no rosto. Resolvi ficar de longe e observar a magnitude daquela alegria sublime.

Pelo estado de suas roupas, que deixara na areia, parecia não trocá-las há um bom tempo. Mas isso não parecia preocupá-lo. Não naquele momento...

Aquilo na verdade era um banho...naquela água salgada, que deveria ser a única ao seu alcance, lavava seu corpo... lavava sua alma... Outras crianças banhavam-se no mesmo mar, mas aconselhadas por seus pais, não ousavam chegar perto do menino. E ele parecia também não se importar com isso, aliás, naquele momento não parecia se preocupar com nada que estivesse a sua volta. Ele tinha pressa. Era como os noivos que se preparam pro tão sonhado dia. Parecia não se conter.

Do horizonte eu via aquilo tudo e não conseguia entender como alguém, que deve até mesmo desconhecer a existência dos seus genitores,poderia sentir tamanha alegria. Continuei a observar e não ousava fazer qualquer barulho para não atrapalhar aquele ritual, que se transformara em um momento mágico.

Com um pouco de dificuldade ele sai da água e segue na direção de um casal que quase adormecia na areia, deitados sob a luz do astro-rei. Ao perceberem a atitude do pequeno rapaz, trataram logo de passar seus pertences para trás dos seus corpos como se formassem uma barreira de proteção. Mas foram surpreendidos com a pergunta: "Tio, você pode me dizer a hora, por favor?" O moço responde, e num agradecimento corrido o menino volta para junto de suas roupas. Uma bermuda surrada, que um dia já havia sido calça, uma sandália tão gasta que sequer protegia seu calcanhar do chão. A blusa era o que parecia ter de mais novo em sua vestimenta, mas também estava bem usada, talvez tivesse ganhado do antigo dono há pouco tempo. Ah e era das mesmas cores das roupas daquela multidão que se formava no calçadão, em volta de um daqueles quiosques...

O cara das horas poderia ter dito qualquer outra coisa pra ele, não faria diferença, ele não teria a menor noção do tempo mesmo. Mas aquela hora informada era a hora por ele esperada. Tratou de se arrumar logo e correu para junto da multidão. Com as pequenas mãos abria caminho por entre pernas e cadeiras, até conseguir um espacinho onde ele pudesse sentar-se ao chão e pudesse olhar a tela de onde ninguém tirava os olhos...

Sorria, sofria, vibrava, roía o que ainda lhe restava de unha... Até que de repete...Gritos de comemoração se misturam num barulho ensurdecedor. O menino nem vira como aconteceu, pois o balofo da mesa da frente levantara segundos antes para comemorar por antecipação, e tapara toda a tela... Mas isso também não importava... Todos pulavam... Todos gritavam... Todos comemoravam... Todos sorriam...e alguns até choravam. O menino sentiu um abraço... e outro... e outro... Todos eram apenas um! Ninguém se importava com suas roupas, com seu estado, sua origem... O menino se sentia mais humano. O menino se sentia mais gente. Era disso que ele precisava. Até já havia esquecido da fome que sentia, pois sua alegria era tamanha que ele não queria ter que se preocupar com qualquer outra coisa...

Um apito sinaliza o fim do espetáculo e o início da festa. Festa das cores, festa das raças, festa de um povo sem diferenças!!!

Logo todos iriam embora e o menino voltaria pro seu colchão de papelão, mas naquele momento ele estava feliz... A união do mundo conseguiu proporcionar-lhe 30 dias de felicidade...
(por Deyvid Guedes em 22 de junho de 2010)
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Na SUPERINTERESSANTE deste mês veio uma matéria falando sobre a Copa do Mundo e a ilusão finaceira, pois os investimentos não são supridos com o crescimento do turismo durante aquele um mês que o país que sedia a Copa recebe seus convidados. Prejuízo na certa!!!
Mas quem se importa com isso? É, eu sei, infelizmente a grande, enorme e gigante maioria se preocupa mesmo é com o bolso, mas para poucos o que importa é viver um momento de felicidade. É claro que o que eu não gostaria que se repetisse como no PAN em 2007, que foi um mês de PAZ no Rio de Janeiro e quando o PAN acabou (exatamente num domingo) na mesma madrugada de domingo para segunda uma chacina ocasionada pela incursão da polícia na favela da Rocinha acaba com 19 mortos. O PAN acabara no domingo e na segunda esta era a capa de todos os jornais do estado. Também odeio viver esta hipocrisia, mas o objetivo do meu texto neste blog hoje é ovacionar sim a Copa do Mundo, mas mais do que isso é desejar que não esperemos até 2014 ou 2016 para vivermos a PAZ e esquecermos as diferenças... Quero desejar aqui agora que a vida seja uma eterna Copa do Mundo!!!

"Then wave your flag"

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