terça-feira, 6 de março de 2012

Chuva de contos...

Ele caminhava pelas ruas da cidade, feito criança com brinquedo novo.
Quase tudo havia dado errado àquela noite. Quase tudo dera errado àquele ano que se findou. Mas ele caminhava feliz... Corria, subia nos obstáculos, em meio à chuva.
Aquela chuva parecia lavar-lhe a alma! Chutava poças de água, e a essa altura já nem se importava mais se estava encharcado, ou se o seu sapato, banco, estava sujo.
Era uma alegria que nem ele mesmo sabia de onde vinha...


Cinco dias antes... 361 dias de muitos desafios já haviam se passado. E ele tomara uma decisão. Sairia mais uma vez para o seu deserto. Os próximos quatro dias que ainda restara daquele ano seria de isolamento. Ele sabia que estaria só o tempo todo, mas era disso que ele precisava... Forçava uma felicidade, mas no fundo no fundo não era bem assim que ele estava se sentindo. Muitas coisas ainda o entristecia, dentre estas coisas estava a saudade.
Saudade de coisas, pessoas, lugares... Porém ele decidira ser feliz! Era isso o que realmente importava, mesmo que para tal, tivesse que deixar para trás muita coisa que amava.

Em meio a um turbilhão de informações que passava pela sua cabeça, algo ainda o incomodava muito. Queria falar, ouvir a voz...mas o seu medo de arriscar mais uma vez o travava em seus pensamentos.
Sem nem mesmo saber o porquê, encheu-se de coragem e no seu celular escreveu uma mensagem "Você pode não acreditar, mas eu sinto saudade! De verdade..." A enviou, mas por conta de todos os fatos já ocorridos, nem tinha esperança alguma de receber uma resposta. E de repente, o seu telefone vibra "rs... Você pode não acreditar, mas eu acredito!" Naquele momento já não sabia mais o que pensar...não sabia nem mesmo como interpretar aquela resposta. Mas tinha uma certeza, a de que feridas começavam a ser curadas naquele momento. O que ele precisava era de cuidado para ajudar na cicatrização e não tornar a abri-las.




Seus quatro dias de deserto passaram rápido. Enfim, era noite de reveillon. Praia, tumulto, felicidade estampada na face de todos. É bom que a gente seja assim! É bom que a gente se iluda com o fato de que, depois de 365 dias, com apenas um giro no ponteiro do relógio, tudo vai ser diferente. Tudo vira do avesso e milagres acontecem. É a magia da vida, renovando esperanças em nossos corações.
Bendito o homem que inventou a comemoração pela passagem do ano. Quando a alma já está cansada, a esperança se renova e partimos de novo do princípio.

Mas em meio àquela multidão que clamava por paz, amor, saúde, prosperidade e felicidade...mais uma vez ele se encontrava sozinho. Alguns desencontros, as linhas telefônicas congestionadas, e ele perdido, esperando o novo ano...sozinho! Como já se sentira a maior parte daquele ano que se despedia, mesmo estando rodeado de amigos. Mas desta vez ele estava só...literalmente!
Fogos... Magia... Felicidade... Sorrisos nos rostos de quem estava a sua volta... Ele tentava sorrir, para não iniciar um ano já com tristeza em seu coração.
E por um momento ele decidiu curtir o visual sem se deixar levar pelos fatos...



Mas algo no decorrer daquela noite, a transformaria em fantástica. E ele nem podia imaginar o quanto.


De repente, um telefonema...mais alguns contratempos...e um encontro. Sim! Seu coração palpitava!
Há tempos ele não via a masidão daquele olhar. Há tempos aquela voz não acariciava seus ouvidos. Há tempos não sentia nada tão confortante quanto aquele abraço. Há tempos não sentia aquele perfume.
Em frações de segundos esquecera tudo o que havia lhe acontecido até aquele momento, e tudo passou a ser aquele momento.
"Você pode não acreditar, mas eu acredito!"

Ele se lembrava. E aquele sorriso que ele via se abrir era sincero. Nada forçado.Sentia que que tudo poderia ser diferente. Sentia que ali estava a chance de um novo começo de uma nova história. Sentia que não estava desacreditado. Não mais...


Depois de tanto tempo sem se verem, o que mais tinham era assunto para colocar em dia. E assim foi. Conversaram... Riram... Contaram como andava a vida... Caminharam juntos por um bom tempo, e nem se importavam com a chuva que os encharcava. Aliás, nem se lembravam mais dela. Em nenhum momento sequer conversaram sobre eles... Era um papo de bons e velhos amigos apenas. Mas mesmo assim ele estava feliz!
Ele aprendera com o tempo a não criar expectativas e aproveitar as coisas boas enquanto elas aconteciam. E aquilo que estava acontecendo naquele momento era bom. Fazia-lhe bem. Ele não queria que aquele instante se estragasse por nada. E não se estragou!

Se despediram e ele seguiu seu caminho, que naquela noite tornara-se mais longo, de volta pra casa...

Ele caminhava pelas ruas da cidade, feito criança com brinquedo novo.
Quase tudo havia dado errado àquela noite. Quase tudo dera errado àquele ano que se findou. Mas ele caminhava feliz... Corria, subia nos obstáculos, em meio à chuva.
Aquela chuva parecia lavar-lhe a alma! Chutava poças de água, e a essa altura já nem se importava mais se estava encharcado, ou se o seu sapato, banco, estava sujo.
Era uma alegria que nem ele mesmo sabia de onde vinha...
Ou melhor... Ele sabia exatamente de onde vinha tanta alegria, e decidiu ir atrás dela.

Conquistar é algo muito fácil. O difícil é, depois das mágoas, das decepções e da ferida aberta você conseguir reconquistar. Este é o grande desafio. Reconquistar, sendo você mesmo, sem máscaras.

E ele topou o seu mais novo desafio! Não entraria neste para perder... E desistir? Jamais!




por Deyvid Guedes, em 01º de janeiro de 2012





"Não sei mas sinto, uma força que embala tudo
Falo por ouvir o mundo, tudo diferente de um jeito bate" (André Carvalho)

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