quarta-feira, 21 de julho de 2010

Carta a um amigo

São Pedro da Aldeia, 20 de julho de 2010

     Amigo, voltei a encontrar-me com Deus...

     Na verdade dessa vez eu não fui até Ele, mas Ele veio ao meu encontro, e confesso que demorei pra perceber que estava falando comigo. Começou me dizendo que eu poderia chamá-lo da maneira que quisesse. Que essa história de Todo Poderoso, Senhor dos senhores e demais adjetivos a Ele atribuídos era coisa nossa, humanos. Ele não quer, e nunca quis, estar no topo de nossas vidas, como um objeto de valor que é taxado como o mais caro e por isso tem que vir primeiro. Tampouco ser rotulado o Supremo a quem temos a obrigação de prestar qualquer tipo de agradecimento. Ele me disse que sempre quis estar no meio de nossas vidas, e que, independente da ordem de importância das coisas que eu faça, Ele quer estar no centro de tudo. Basta que eu me permitar agir por Ele. E isso acabou interferindo na minha maneira de chamá-lo. Sempre o vi como Pai, mas porque todos o chamam assim, e Ele também me explicou que isso vem de há muito tempo, pois o homem, geralmente, sente a carência afetiva de um pai. É de se notar que na maioria das vezes os laços que unem mãe e filho são bem mais atados...
     Optei por chamá-lo de Irmão... Meu Irmão! Talvez o irmão, confidente, do mesmo sexo que eu não tive. Ou talvez pela falta de um verdadeiro relacionamento de irmãos, que eu nunca tive com minha irmã, mas este é um assunto para outra carta...
     Meu Irmão foi me mostrando a necessidade de uma relação de Amor. Um Amor sem expectativas. Com total desprendimento. Carinho e respeito. A partir do momento que eu me relaciono com uma pessoa e crio expectativas, eu não me permito amá-la no sentido mais puro da palavra. Vejamos um bom exemplo: Eu sempre busco estar próximo dos meus amigos nos momentos importantes de suas vidas. Sobretudo em seus aniversários, que eu julgo ser um momento importantíssimo na vida de cada um. Se eu crio uma expectativa, desta minha relação de preocupação em estar perto, vou me decepcionar, se no meu aniversário algum deles, por qualquer motivo que seja, esquecer de me felicitar pelo dia. A decpção é o fruto da expectativa que eu crio, e me impede de amar por inteiro...
     Sempre me perguntei e dessa vez decidi perguntar ao Meu Irmão. Como podia Ele, nos amar tanto e permitir que tantas coisas ruins nos acontecessem. Até que eu percebi que as coisas que julgamos serem ruins não são obras dEle, e sim consequências do que, nós homens, viemos gerando ao longo de muito anos, vivendo a nossa independência. Ser livre não significa ser independente. Dependemos sim, daquela relação de Amor que já fora citada antes e, a falsa sansação de liberdade nos torna seres independentes do verdadeiro amor e escravos das armadilhas do egoísmo. E eu na minha humilde humanidade ou humana humildade, não entendia ainda porque Ele, sendo Deus não intervinha em tantas catástrofes e tragédias q nos assolam, já que é o próprio Amor. Então, Meu Irmão me mostrou, que se pudéssemos ver a quantidade de males dos quais já fomos livrados por Tuas mãos, entenderíamos a imensidão do Amor. Porém intervir nas atitudes humanas é tirar de nós a dádiva do livre-arbítrio. Desta forma não viveríamos por nós mesmos, e sim da maneira que Ele quer, e esta não é sua intenção.
      Mas se Ele nos ama e sempre está conosco, como pode nos abandonar? "Eloim sabactani?" Essas palavras sempre ressoaram em meu coração como uma situação de total abandono... Como podia Deus, abandonar seu próprio Filho, ou melhor, Ele mesmo feito homem, em um momento de tamanha dor, que era a cruz? Fiquei pasmo no momento em que Meu Irmão me mostrou seus punhos. Então ele estava tentando me dizer que não abandonou Jesus naquele momento, mas sim que estava com Ele. Porque Jesus gritara "Pai, por que me abandonaste?" Foi difícil entender que o Pai, o Filho e o Espírito não podem nunca se separar, e que naquele momento ali Deus não estava sentado em seu trono no céu, como eu sempre imaginei, e sim estava sendo crucificado junto com o Filho. A expressão de Jesus vem de encontro a sua realidade humana, e assim como qualquer um de nós ele também se sentiu abandonado pelo Pai no momento em que sentiu a dor. Mas Meu Irmão me contou da tamanha emoção que sentiu no momento em que Jesus Lhe entrega o Seu Espírito. Mais uma vez estava sendo consumada a relação de Amor entre os três, e a Certeza superou toda a dor humana.
     Fui levado por Meu Irmão até um lugar onde eu comecei a visualizar toda a minha família. Via meu pai, minha mãe, minha irmã, minha sobrinha... Até que Ele me disse que eu deveria escolher uma pessoa que deveria ser condenada ao inferno. Não entendi o que estava querendo dizer com tal afirmação, até que toda aquela magia do encontro começou a se tranformar num pesadelo. Ele disse que naquele momento eu deveria escolher entre a minha sobrinha, que entrou na minha vida há um pouco mais de 3 anos, minha mãe, que já fez muita besteira e já me deu muita dor de cabeça, minha irmã, que assim como minha mãe já andou me tirando muito o sono, e meu pai, que já nos fez muito sofrer, para condenar apenas um ao fogo eterno. Gelei dos pés a cabeça. Eu jamais poderia me imaginar nessa situação. Julgando alguém. E o que é pior, julgando um dos meus... Minhas lágrimas rolavam, meu copro tremulava, minha cabeça balançava em sinal negativo enquanto Meu Irmão insistia para que eu escolhesse apenas um. Mesmo com tantos motivos eu não poderia jamais desejar o pior castigo que fosse para qualquer uma daquelas pessoas... Ele insistia e eu cada vez mais tomado pela agonia não conseguia conter tamanha dor em meu coração. Até que num grito de desabafo, ou desespero, eu pedi que me condenasse. Que se alguém mesmo tivesse que ir para o tal inferno que este alguém fosse eu mesmo e nenhuma daquelas pessoas ali sofressem com minha escolha... Meu Irmão sorriu! E  eu me desperei ainda mais... Como podia Ele, depois de tantas lições de amor, poder me colocar em xeque assim e ainda sorrir pelo meu desespero? Ao perceber meu pensamento me olhou nos olhos e disse que eu estava começando a entender a verdadeira dinâmica do Amor, e que a partir de agora eu só precisava sentir este mesmo Amor sem distinção e não mais julgar Deus como um cruel carrasco que se diverte conosco, humanos, de um trono bem longe lá no céu. Quando percebi que niguém seria condenado por mim, lágrimas de gratidão e alívio rolaram por meu rosto. Passei a compreender o que há muito eu mesmo julgava e não compreendia. A tal jutiça de Deus, que muitos insistem em lançar pelos ares como se fosse muito simples, quando na verdade os juízes somos nós...
     Pra completar me mostrou que sua verdadeira Igreja só caminhará ao seu encontro a partir do momento em que passar a Amar e não julgar...
     Passada esta experiência chegou um momento em que Meu Irmão me disse ser talvez o mais importante daquele encontro de Amor. Era hora de aprender a perdoar e ser perdoado. É inútil querer viver o Amor sem viver o perdão. Amor sem perdão é um amor falso, uma hipocrisia. E não apenas reconhecer minhas faltas e pedir perdão, mas o que pode ser mais difícil, entender que somos humanos, falhos, e perceber que todos podemos errar e assim da mesma forma todos merecemos perdão.  Era extremamente incomodo rever as feridas em meu coração. Na verdade, cravos fincados por mim mesmo que me sufocavam ao ponto de não me permitir amar por inteiro. Pessoas que me magoaram e eu não consegui perdoar, pessoas que eu magoei e não consigo pedir perdão... Realmente a cura por inteiro precisa de muita disponibilidade da alma, mas a recompensa é tamanha. Acreditem!!!

    É meu amigo, passar pela experiência de estar na presença de Deus mais uma vez é a cada dia mais magnífico, e desta última me deixou em um estado de êxtase que até agora eu não consigo explicar, mas a alegria tomou conta do meu coração. Espero nunca esquecer de cada palavra proferida da boca de Deus, e eu só tenho a agradecer a você, Meu Irmão, que me proporcionou esta viajem para dentro de mim mesmo em um momento em que muito precisava refletir em cada uma dessas palavras...
Eu te amo!
Obrigado por existir em minha vida!!!

Deyvid Guedes

3 comentários:

  1. Oi Deyvid!!!

    Nossa! Esse mergulho em nós mesmos é renovador...
    Sabe, eu O chamo de vários nomes, Senhor, Papai, Amigo... E hoje sei que ele está comigo sempre e sempre... Ele vem ao meu encontro diversas vezes ao dia! Eu O sinto.
    Já houve o tempo em que me senti também abandonada... Não entendia os seus planos... Não percebia que tudo que Ele faz e tudo que Ele permite que nos aconteça, na verdade, tem o seu propósito! Hoje sou grata por tudo o que vivi... Percebo o quanto eu cresci, o quanto minha fé se fortaleceu e principalmente, sei que o AMOR dele por mim é enorme, infinito... E a recíproca é verdadeira!
    Fico muito feliz em saber que tenho um Pai, Irmão, Senhor, enfim, um grande amigo que me ama muuuuito e é por mim. Sempre!

    Gostei muito do post! O texto foi inspirado no livro A cabana?

    Bom, vou ficando por aqui!
    Que o TEU IRMÃO continue a nos guiar!

    Beijos!

    Milla

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  2. Hum... tou sentido que alguem tah conseguindo, usufruir o bem que o livro a cabana tem a proporcionar para quem estar com o coração aberto à Deus!!!! ... será que estou certa?????

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  3. Lindo texto!
    Não senti falta de partes quaisquer que se perderam, mesmo não as tendo lido. Está ótimo assim!
    Como sou leiga no assunto, me resumo a isso. rs

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