quarta-feira, 1 de julho de 2009

"Não, Deyvid não sentia inveja dos meninos que tinham violões de verdade porque ele vivia sonhando que tinha um também. Ele fazia vibrar suas cordas invisíveis, com o rosto iluminado e os olhinhos brilhando de emoção. Havia quem achasse que Deyvid era meio lelé-da-cuca. Claro, era gente que não tinha imaginação suficiente para saber que "aquele" violão só podia ser visto (e ouvido) por outros sonhadores, como Deyvid. Essas pessoas ignoravam também que ele não se conformava com a realidade que havia, vivendo a sonhar com a realidade que devia haver. Tendo seu violão imaginário como bandeira, Deyvid via um mundo novo. Um mundo em que as coisas são das pessoas que as entendem. E não só das pessoas que podem comprá-las. Ah, quanta gente tem um violão na sala de visitas servindo de enfeite, sem tocá-lo nunca! E lá ia Deyvid dedilhando seu violão de sonho, tirando as músicas lindas que seu coração compunha. Depois, limpava-o cuidadosamente com uma flanela bem macia feita de nuvens. Ele o guardava com carinho numa capa cor de céu todo estrelado. Daí, ele pegava seu violão mais que exclusivo e o escondia debaixo da escada secreta que usava para subir ao seu paraíso particular. As pessoas que não entendiam o Deyvid, tadinha delas, até pensavam em levá-lo a um psicólogo para saber se ele tinha alguma coisa. Como resposta, ouviam: "Não, ele não tem uma coisa, mas sonha com ela, e assim, faz de conta que a tem".Um dia, os que só sonhavam quando dormiam resolveram dar um violão de verdade para o menino que sonhava acordado. Ao recebê-lo, Deyvid abraçou-se ao violão, comovido, e disse: "Obrigado. Agora tenho dois".


(uma daptação do texto de Carlito Maia)

1 comentário:

  1. Lindo texto, mas triste é saber que tem um Deyvid que, enquanto toca um violão imaginário, possui um "guardado" em cima do seu guarda-roupas se enchendo de poeira... =/
    Esse Deyvid poderia ter dois igualzinho ao Deyvid da história...

    ;***

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