domingo, 30 de outubro de 2011

O grito

Sou o grito no silêncio de bocas amordaçadas...
Sou navalha cortando a carne...
Sangue que jorra manchando a terra, formando rios de impunidade...

De  cara pintada me preparo para guerrear. E onde minha voz e meu canto puder chegar, ali estarei também.
Não me calo com qualquer opnião contrária. Vocês não são páreo para mim!
Eu sou apenas um , e no meio destes bilhões formamos uma só força!

Calem-se! É a minha vez de falar!
Não... vocês não têm escolha, agora vocês vão ter que me ouvir.

Chega de me tratar como um feto sem raciocínio, já sei quem sou e o que sou. Já sei de onde vim, para quê vim e sei muito bem onde quero chegar. Ninguém me mandou, eu tenho vontade própria e não sou fantoche de suas mãos intorpes.
Ganho vida a cada dia mais que tentam me condenar a morte!

Não, eu não me calarei, vocês é que silenciaram diante de mim!
Garras de leão, ventos no mar revolto, trovão estourando no campo...
Fujam se quiserem! Mas não pensem que vou desistir! Nesta luta desigual, hoje eu me transformo em ser imortal. Jamais desistirei da minha missão. Cansei... cansei de ver meu suor molhar suas malas e cuecas. Cansei de levar na cara e dar a outra face para apanhar novamente. Querem me convencer que são os reis daqui, mas este reinado tem outro dono.

Basta de hipocrisia! Basta de sentir o mal cheiro de suas imundices e apenas torcer o nariz...
Danem-se com seus poderes, só os têm porque fui eu quem  o coloquei em suas mãos. Chegou a minha vez, vou lhe mostrar o verdadeiro dono do poder...

Corram!!! Ainda há tempo. Ou, se preferir, me enfrentem e sintam a minha fúria na própria pele. Beberei cada gota do teu sangue para recuperar todo o meu que foi perdido. Meu ódio fluirá pela derme e te alcançará, então todo o ódio passará a ser apenas seu. Desejarás nunca ter nascido, ou no mínimo, nunca ter me conhecido. Talvez se arrependa de todo o mal que já me fez, ou então sejas dissipado antes mesmo de pensar em tais coisas. Usarei você contra você próprio! E te mostrarei a quem pertence este reino.

Queres desistir? Espero que não. Não há nada mais saboroso em uma vitória do que o doce sabor da conquista depois de lutar.E para ti? Deixarei o fel amargo da derrota... Quero ver-te agonizando, clamando por ajuda, sem que ninguém sinta vontade de lhe estender a mão. Não serás páreo para mim...

Ontem eu era INFÂNCIA, me manipulavas com suas armadilhas e me fizeste crescer em meio a intolerância e injustiça. Hoje eu sou a JUVENTUDE, criada e crescida com sentimentos de ódio e rancor que recebia de vocês durante todo este tempo.
Sou apenas o que fizeste de mim com suas próprias leis impunes
Rasguem-se meus papéis, estourem-se meus tinteiros, arrebentem-se minhas cordas vocais... mas jamais me calarei.

Minhas unhas arranhando o quadro negro serão a tortura pela falta de educação que de ti recebi. Escarros na sua face serão a prova da saúde que me destes. E seu clamor por comida me lembrará a fome que eu passei... E você, SISTEMA, aprenderá que eu sou apenas o que fizestes de mim durante todos estes anos que me flagelastes e torturastes.

Viva até que este dia chegue que eu quero ver se sobreviveras até que o dia seguinte a ele surja...
Desfaça-se de mim se for capaz. Resista a minha revolta se tiveres forças!

Enquanto gastas suas energias com tudo aquilo que roubas de mim, eu apenas me preparo para o grande dia da batalha final...




(Último domingo do mês de Outubro, DNJ, Dia Nacional da Juventude)













por Deyvid Guedes em 25 de Outubro de 2011

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A Magia da Vida (parte III)

   Hoje eu acordei meio pra baixo. Cara emburrada, mal humor... Só não digo que levantei literalmente com o pé esquerdo porque do lado esquerdo da minha cama tem uma parede que me impede de me virar para este lado ao acordar, mas já não estava nada bem.
   A caminho do trabalho olhei pro céu e tive uma visão fantástica. Sol e lua partilhavam o mesmo céu azul...e diga-se de passagem, sem uma névoa branca sequer para manchar aquele azul. Apenas isso já foi o suficiente para que eu pudesse pensar um pouco na vida.

   Ví toda aquela poesia ali na minha frente e não pude me conter. A lua, de tanta saudade, resolveu ir dormir um pouco mais tarde só para contemplar seu amado rei e aplaudir o grande espetáculo do lindo dia que ele proporcionava aos bilhões de habitantes deste planeta, que por sua vez nem sempre notam a magia de um lindo amanhecer.. É a vida que se renova, a escuridão passou e um novo dia está surgindo pronto para nos dar a oportunidade de começarmos tudo de novo. Tudo o que gostaríamos de ter feito ontem, mas já não dá mais tempo, pois agora é passado e só nos resta a lembrança. Mas o hoje...a dádiva do presente está aí para tentarmos mais uma vez.

   Passei minutos, durante a minha caminhada contemplando aquela cena do céu, sol e lua. Meus maiores amores. Minhas maiores inspirações ali, bem na minha frente sorrindo pra mim e me pedindo para ser feliz. Só faltou o mar para completar este cenário. Tenho certeza que da beira dele a tela seria ainda mais extasiante do que a que eu estava vendo.

   Me pediram um sorriso e, sem saber o porquê, naquele momento eu sorri, quando na verdade eu queria era chorar, mas um pedido como este eu não pude recusar, ainda mais depois de ter recebido um presente tão magnífico de bom dia. Me sorriram de volta, então eu pude ver como é belo sorrir. Como é belo sorrir e fazer sorrir. Melhor ainda é não sorrir sozinho. Às vezes não temos noção do que um simples sorriso pode proporcionar.

   A caminhada já estava chegando ao fim e eu nem percebi que havia percorrido tamanha distância em tão pouco tempo, ainda extava extasiado com aquele sorriso. Ainda estava perdidamente apaixonado com todo aquele quadro pintado na minha frente e me perguntava se apenas eu mesmo é que estava vendo aquilo.
   Pessoas correndo de um lado a outro olhando os relógios, entrando em ônibus lotados, indignadas com seus atrasos...e uma linda cena de amor sendo perdida.

   Decidi que o melhor que eu tinha a fazer hoje era sorrir.

   Sorrir sem "quê" nem "por quê". Apenas sorrir! Talvez algo diferente no meu sorriso pudesse mudar algo na vida de alguma pessoa. Então dei o meu mais belo sorriso para todos aqueles que eu pudesse alcançar.

   Ouvi dizer que meu sorriso era lindo! Ouvi pessoas tentando adivinhar o motivo do meu sorriso. E um elogio que me deixou com ainda mais vontade de sorrir: " Este sorriso é daqueles que quando vemos sentimos vontade de sorrir também, mesmo sem saber o motivo!" Como foi gostoso ouvir isso. Meu sorriso faz sorrir! Não há tristeza que resista a um belo sorriso. Melhor ainda quando o sorriso vem seguido de uma boa gargalhada.

   Como é gostoso sorrir!

   Então percebi que eu não devo sorrir apenas quando estou feliz. O sorriso é contagiante! Se estou triste transformo minha tristeza em piada, para que sorriam para mim e aquele sorriso possa me contagiar. "Que bom amigo, mas se um dia precisar chorar pode me procurar que tentarei lhe fazer sorrir, retribuindo o sorriso que me deste hoje!"

   E mais uma vez eu sorri!

   É também muito bom saber que não sorrimos sozinhos.E que, quando eu quiser sorrir, terei muitos palhaços (me perdoem mais não é uma ofensa) a me alegrar e tentar impedir que minhas lágrimas rolem...





   Hoje eu quero sorrir!
   Quero sorrir com vocês, quer sorrir para vocês, quero sorrir de vocês...e mesmo se alguém me fizer chorar eu o farei sorrir, para que perceba o quanto é valioso um sorriso. Uma única falha não pode ser mais importante do que os inúmeros sorrisos que aquela pessoa me proporcionou.


   E se uma lágrima rolar, que ela morra entre meus dentes com a minha boca escancarada em um belo sorriso!

Bons sorrisos!


por Deyvid Guedes em 20 de Setembro de 2011





Dedico o meu sorriso a Pablo Gonçalves, Cristiane Cardos, Bárbara Pereira, Aclécio Araújo, Stenio Reis, o céu, o sol e a lua... O causadores do meu sorriso neste dia e inspiração para este texto!



E para meus leitores que ainda não conhecem, sugiro ler:

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ϕοῖνιξ

Da primeira vez que eu morri...


Eu não queria morrer...



Sentia medo, mas a minha morte era eminente, e eu sentia...
Eu precisava morrer antes da morte!
Todo o processo é muito doloroso, mas é extremamente necessário.

Antes de confeccionar meu ninho, pousei em uma palmeira à beira do mar
E observava o astro-rei se pôr
Era mágico aquele momento, eu parecia ouvir o fogo sendo esfriado pela água gelada da imensidão azul
Eu deveria me entristecer por ver meu amigo morrer lá no horizonte

Mas não... Força, superação, determinação, coragem, perseverança...
Era isso que eu sentia ao vê-lo partir
Era isso que eu precisava ser e não apenas sentir

Mas este meu ciclo havia sido encerrado...era chegada a minha hora
Assim como Bennu, a alma do deus Rá, eu precisava encontrar a minha Heliópolis e consumar o que não tinha fuga

E assim fui contruindo em meu pilar, meu ninho de ramos de canela, sálvia e mirra
A colheita era muito dolorosa, pois o medo não se afastava de mim
Mas era preciso

Construi meu ninho, minha própria sepultura, meu próprio berço
E me deixei consumir...
Queimei...
Senti...
Doeu...
Sofri...

Chorei...

Meu leito de morte em pouco tempo se tornaria o berço da minha vida...
Da minha nova vida...
Parecia demorar, mas eu precisava ser paciente

Perpetuação... Ressurreição... Esperança que nunca têm fim...
Como incenso queimavam também comigo e subiam aos céus levando o odor de minhas penas flamejantes
Cinzas virei e das cinzas ressurgi
As penas que sinto de mim mesmo formam as asas que me fazem voar
Sacudi o pó e mais uma vez voei...

E com as cinco cores sagradas, me vesti
Azul, roxo, vermelho, branco e dourado
Agora um novo ciclo se inicia e estou pronto para pairar pelos ares com o vento me conduzindo pelas asas

Nova vida! Novo ser... Precisei morrer para entender como viver...
Sou Fênix, e das cinzas ressurjo mais uma vez...
Agora mais do que nunca entendo que vez em quando preciso da morte para ter a vida
Hoje eu entendo porque eu precisei morrer



Sou Fênix
Sou morte
Sou vida
Sou esperança
Sou perseverança

Sou Fênix...

 
 
 
Por Deyvid Guedes em 19 de setembro de 2011

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

"Ainda vejo o mundo com os olhos de criança"

Meu pai me ensinou a fazer carrinho de madeira, televisão com caixa de leite, preparar pista de corrida na areia e correr com tampinhas de garrafa... Minha mãe me ensinou a rodar pião, soltar pipa, brincar de bate-bag, biloquê... Joguei AquaPlay, Pegue-peixe, LEGO, Comandos em Ação... Na rua um pedaço de madeira com elásticos e tampinhas de garrafa viravam uma arma e eu polícia ou ladrão. Chinelos eram traves e a bola rolava no asfalto. A imaginação nos transformava em vendedores, apresentadores, atores... Giz ou pedaço de tijolo era o suficiente para transformar o chão no Mar Vermelho ou numa escada que nos levava até o céu. Papel e caneta e o sorteio com os dedos definiam a letra para testar nossos cohecimentos.
O tempo passa e a gente não quer mas tem que crescer... E acaba esquecendo do fascínio que é ser criança.


Há quase 10 anos atrás eu era um adolescente quase jovem, lá com meus 16 anos e que achava que já tinha crescido demais. Ou melhor, achava que tinha crescido rápido demais. Vez ou outra sentia saudades da minha infância. Via as crianças brincando na rua e queria brincar também. Mas morria de vergonha de contar isso pra alguém ou até mesmo pedir pra brincar também.

Até que eu conheci vocês...


E eu descobri que não era tarde pra eu ser criança...


Hoje eu pensei em escrever tanta coisa aqui...mas quando comecei a vasculhar as fotos fiquei sem palavras. Alternava choros de alegria e risos com tanta idiotice que já fizemos juntos.

Decidi que a postagem de hoje vai ser traduzida apenas em fotos. Tenho certeza que quem ver vai sentir o mesmo que eu estou sentindo agora!

Amo muito vocês, meu irmãos, minhas paixões, minhas eternas crianças!!!




Para quem não conhece essa família, nós somos a CVM (Comunidade de Vida Mariana) Nossa Senhora Desatadora dos Nós. Da esquerda para a direita: Marcus Crespo (Pupilo), Monique Vasconcellos (Mumu), Deyvid Guedes (Pinto), Vinícius Machado (Cunhado, que agora também faz parte da família), Rosana Martins (Rosa), Juliana Ramalho (Pretinha), Pablo Gonçalves (Pablito) e Solange Silva (Sol).



Uma família que nasceu há 8 anos e 7 meses. As crianças mais incríveis que puderam entrar na minha vida!
Amo muito vocês!
Obrigado por existirem!

Feliz dia das Crianças para todos nós!!!!

sábado, 8 de outubro de 2011

Forasteiro...

   Em dado momento da minha vida decidi me tornar um cigano. Não adquiri hábitos, costumes ou crenças do povo, apenas usei o termo para especificar que tipo de vida decidi seguir. Chegou uma hora que resolvi abandonar o aconchego do meu lar, colocar algumas poucas coisas em minha mochila, somente o necessário, e com ela nas costas buscar o mundo. Andei por aí sem rumo. Conheci novos povos, novas culturas, aprendi tanta coisa com o que eu vi. Estava satisfeito com a vida que estava levando. Fazer novos amigos é sempre muito bom, mas confesso que sempre choro com as despedidas. Mas foi a vida que decidi seguir e sempre que me despeço nunca olho pra trás pra não me arrepender. Sei que é bom manter os laços, mas preciso seguir meu caminho e conhecer novos lugares.
   Nesta minha caminhada me deparei com um povoado que me chamou muito a atenção, e é sobre ele que vou discorrer aqui nas próximas linhas.
   Caminhava eu pelo meio de uma floresta de mata nativa bem fechada, e pela primeira vez em toda a minha trajetória eu tive medo, pensei estar perdido. A mata era muito densa, fazia frio, a noite caía, meu cantil já quase que se esvaziara, poucas eram as árvores frutíferas daquele lugar e nenhum sinal de população. Pensei que talvez ali seria o meu fim. Quando de repente, me deparo com uma claridade vinda do outro lado da floresta. Caminhei em sua direção até que de longe avistei, no meio de um vale (eu já não tinha nem noção eu subia uma floresta montanha acima) uma pequena aldeia, e o povo parecia estar em festa. Fui me aproximando devagar, não queria chamar muita atenção, mas logo alguém me notou. Dançavam em torno de uma fogueira e realmente pareciam muito felizes. Fui logo convidado a participar das danças em torno das chamas, me ofereceram bebida e comida. Nunca havia encontrado pessoas tão receptivas e aquilo ali ia até me assustando. Não sabiam quem eu era, de onde vinha, qual era o meu caráter... E pareciam nem estar preocupados com isso. Demorei um pouco para ficar a vontade com toda aquela situação, o estranho era eu, mas eu é quem começava a estranhar a todos.
      Depois de um tempo, quando eu menos percebi lá estava eu sentado em torno da fogueira como um dos aldeões, ouvindo suas histórias, bebendo de suas bebidas, comendo os alimentos que eles assavam na brasa... Senti uma paz! Um conforto! Me senti super a vontade por estar alí, e parecia que eu tinha voltado pra minha própria casa. Era como se eu estivesse nascido no meio daquele povo.
   Até que alguém resolveu perguntar quem eu era. A essa altura eu já achava que isso era o que menos importava, mas fiquei muito feliz e ter sido notado e comecei a contar-lhes minha vida e minhas andanças por aí. Me olhavam da mesma maneira que olhavam os anciãos quando contavam as histórias dos seus antepassados. Primeiro senti o peso dessa responsabilidade, como se eu os estivesse ensinando algo, mas depois percebi que eles gostavam de me ouvir, e não passei mais a me importar e continuei contando minhas aventuras.
   Já era madrugada adentro quando todos começaram a se deslocar aos seus aposentos. E logo me ofereceram uma cabana (que talvez fosse criada para receber visitantes mesmo, como se recebessem sempre visitas ali no meio do nada). Um lampião, uma cama com vestes limpas, uma moringa com água fresca e um pouco do que haviam assado na fogueira. Deitei-me e fiquei algumas horas pensando naquelas pessoas. Como eram felizes. Como me fizeram sentir feliz. Como eu estava a vontade por estar naquele lugar que eu nunca tinha visto antes...
   Antes que o sol despertasse eu já estava de pé, o céu já estava claro, e fui caminhar pela perimetral daquela aldeia para conhecer. Como eu chegara a noite não havia percebido o quanto aconchegante era também a natureza daquele lugar. De um lado as matas e as montanhas, um rio descia morro abaixo, cruzava a aldeia a leste e desaguava no mar que ficava do outro lado, um pouco afastado, mas que em poucos minutos de caminhada chegávamos. Entrei por um caminho na mata e fui ter com o rio. Uma espécie de piscina natural se formava logo abaixo de uma cascata e foi alí que (depois de verificar se realmente não havia ninguém por perto) que me banhei. Aquela água gelada era confortante. Massageava todo o meu corpo, que depois de longas caminhadas parecia tão estressado, com os músculos duros. Terminei meu banho, me vesti (antes que chegasse alguém) e peguei o caminho de volta. No caminho encontrei as mulheres que voltavam com frutas para o café da manhã. Ao chegar na aldeia cada pessoa que me olhava, assim como aquelas mulheres no caminho, me recebia com um sorriso tão grande e tão sincero que eu me sentia muito amado por aquelas pessoas que sequer me conheciam.
    Depois de alimentado continuei minha caminhada por alí, e já parecia mesmo que eu estava em casa, pois niguém me olhava como um estranho. Crianças vieram ao meu encontro e me pediam pra continuar contando as histórias que iniciei sentado à beira da fogueira. Sentei-me com elas em uma espécie de campo, onde brincavam, e continuei minhas aventuras de caminheiro. Cada vez chegavam mais, e quando me deparei eu era um contador de histórias rodeado de olhinhos fascinados com minhas palavras. E mais uma vez eu fui tomado de alegria.
   Demorei alguns dias ali naquele lugar (mais do que o normal pois nunca ficava muito tempo por onde passava) mas cada vez que eu dizia que ia embora, me pediam para ficar, e eu ainda não sei porquê, sempre concordava e adiava a partida. Dias foram se passando e eu ali, cada vez mais encantado. Porém em alguns dias eu sentia uma profunda tristeza. Me levantava, caminhava pela aldeia, ia até o rio, colhia frutas, passeava pela areia da praia...voltava, via o dia terminar, e não via uma pessoa sequer. Povo estranho! Pareciam tão felizes em sua convivência diária, mas vez ou outra pareciam não querer se ver ou cruzar os caminhos uns dos outros. E assim seguia a vida. Confesso que nesses dias eu sentia uma profunda tristeza. Era pior do que caminhar sozinho por aí. Nas estradas da vida eu sei que sempre encontrarei um outro povoado uma hora ou outra. E sei que realmente estou sozinho. Mas ali não...eu sabia que tinham pessoas adoráveis atrás de cada porta fechada e que naquele dia eu não poderia ver aqueles sorrisos que me faziam inebriar de carinho. E esses seriam os melhores momentos para eu juntar minhas coisas e partir, mas não conseguia, ao lembrar de cada brilho no olhar, de cada sorriso, de cada noite de festa (que se repetia com uma certa frequência) eu voltava atrás e prometia pra mim mesmo que ia ficar só mais um pouquinho, mas que no dia seguinte iria embora... Mas nunca ia...
   Mas eu esperava sempre ver todos os dias os sorrisos, as risadas, as crianças correndo pelos campos. Eu não conseguia entender como um povo tão feliz se trancava em mausoléu de tristezas de um dia pro outro sem motivo algum. Não conseguia entender tanta oscilação de humores. Se eram tão felizes ao me ver pela manhã, por que eu não tinha aqueles sorrisos todas as manhãs? Por que sem motivos se trancavam em suas casas e ignoravam minha presença? Já não sabia mais o que achar e preferia não tirar conclusões precipitadas... E comecei a perceber que realmente eu demorara mais ali do que devia. De uma forma ou de outra eu sempre seria um estrangeiro. Talvez eu nunca me acostume com os hábitos deles. Deveria seguir meu rumo e mais uma vez me despedir... Forasteiro, isso é o que eu sou para eles!
   Essa noite ninguém se reuniu em torno da fogueira... Não vi sorrisos, não ouço vozes, nem as velas acesas nas casas eu consigo enxergar pelas frestas. Acho que chegou o meu momento. Tenho que partir. Vou sair na calada da noite para não ter que me despedir... O choro seria inevitável. E desejo que não me peçam pra ficar...pode ser que eu não resista a mais uma noite. E agora começo a perceber que este aqui não é realmente o meu lugar... Talvez um dia eu volte, e encontre tudo diferente, ou talvez não os encontre no mesmo lugar...ou quem sabe a vida me leve a outro lugar que não me permita nunca mais voltar aqui. Mas não vou me preocupar com isso... A estrada me chama... Vou tentar não olhar pra trás!




Por Deyvid Guedes em 08 de setembro de 2011

sexta-feira, 7 de outubro de 2011


"Toda noite vens me visitar...
É tarde, mas não me deito sem antes te sentir.
Tão longe e tão perto...
Esqueço do sono que tenta me derrubar e corro ao teu encontro
Sua presença é tão necessária quanto o ar que eu respiro
Ansio durante todo o dia só para encontrar-te ao me desejares uma boa noite
Não preciso tocar-te, não preciso abraçar-te, não preciso sequer beijar-te
Apenas preciso saber que estais aí
A distância física não importa, pois lhe trago comigo onde quer que eu vá

Maior inspiração deste humilde aprendiz de poeta
Não sei o que seria dos meus dias se eu não pudesse mais te ter aqui comigo todas as noites
Teu brilho acalenta meu ser e traz conforto para minh'alma
Sigo a te adimirar e já nem quero mais nada em troca
Saber que estáis aí me basta!

Doce companhia de todas as noites
Não me deixe dormir sem antes ter-te por alguns instantes
Brilha em mim e me faça dar mais um sorriso de alegria
Pureza refletida em meu olhar
Posso sentir seu doce perfume como se aqui ao meu lado estivesse agora
E sei que estais
Sei que também pensas em mim e se enche de alegria ao me ver te observar e todas as noites lançar olhares apaixonados em sua direção

Riqueza
Inspiração
Reina tua soberania sobre mim e faça comigo o que quiseres
Serei para sempre teu...eternamente grato pelo bem que me fazes todas as noites

Serei teu mar calmo e sobre mim deitarás tua luz
Receberei teus carinhos como uma criança indefesa no colo materno
E por todas as noites serei teu eterno poeta
Recitando-te as mais belas poesias
Traduzindo o meu amor"




Por Deyvid Guedes em 05 de Outubro de 2011

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O que vi da vida...

   Vi um tempo passar arrastado, numa infância que não tinha mais fim. "Quero ser grande"-pensava eu, sem saber que maldição professava. Tinha todo o tempo do mundo e este era favorável à minha feliz rotina. Brincava do entardecer até me cansar, e quando já não me aguentava mais ia para casar tomar um belo banho e desabar sobre a cama. Um sono tão pesado que minhas noites pareciam uma eternidade. Sonhava...e sonhava...e sonhava... Quanto tempo eu tinha para sonhar! E nada de interromper meus sonhos na melhor parte com o ruído estridente de um despertador urrando nos meus ouvidos..

   Ah o tempo!

   Senhor de todas as coisas, que não dorme e não deixa de agir sobre nós, um instante sequer. Ele que era ao meu favor, agia sobre mim sem que ao menos eu percebesse. E na minha pura inocência pedia a Deus vez ou outra que o tempo passasse mais rápido. Me parecia tão atraente a vida de um adulto. "Talvez eu possa brincar a noite toda sem minha mãe me chamar pra casa. Os adultos não têm hora para chegar!", me iludia. Mal sabia eu que na vida adulta não teria mais tempo de sonhar, e que as noites intermináveis seriam noites mal dormidas, quando a falta de tempo nos enche a cabeça.

      Hoje peço ao tempo para se arrastar, mas ele não me ouve. Quero voltar a ser criança e ter mais tempo pra brincar. Mas a seriedade me toma tanto tempo que às vezes até me esqueço do meu tempo de criança...

   Ah o tempo!

   Tempo este que não volta jamais. Tempo das aventuras adolescentes. O primeiro beijo, o primeiro cigarro, a primeira bebida, o primeiro porre, o primeiro amor... Namoros escondidos...becos, vielas, ruas escuras, muros, casas em construção, o banquinho da praça. Quem nunca viveu essa realidade? O mundo das descobertas. Tantos encontros num encontro consigo mesmo. Sempre era hora e todo lugar era lugar. Minutos intermináveis. "Será que vem vindo alguém?" Era a adrenalina que tornava cada momento mais gostoso. Já hoje...a falta  de tempo faz namoros (ou até mesmo casamentos) caírem na rotina. Nada é mais como no primeiro encontro. Sinto saudades de voltar nesse tempo. E fazer tudo de novo, mesmo que escondido, para tentar aproveitar melhor meu tempo. Quando não se imagina o próximo encontro cada um parece ser o último e não há mais tempo a se perder. Peço ao tempo que volte e demore só mais um pouquinho a passar...muitos muros ainda precisam me conhecer.

   Ah, o tempo!


   Hoje na vida adulta nos tornamos escravos do temível tempo. "Preciso de um tempo para isto, preciso de um tempo para aquilo, quero fazer tanta coisa e não tenho tempo..." E quando menos esperamos somos nós que estamos pedindo tempo ao tempo. E que tempo é este se não temos tempo a perder? Quanto tempo ainda temos?

   Ah, o tempo!

   É dura a vida de adulto! Conviver com o tempo sem aceitá-lo é duro demais. Não saber administrá-lo nos acorrenta aos ponteiros que parecem nos congelar com suas voltas hipnóticas. E quando nos damos conta...o tempo passou e a gente nem viu. Passou e não pudemos aproveitá-lo da
forma que gostaríamos ou poderíamos. Será que estamos mesmo perdendo o nosso tempo? Ou será que estamos ganhando o tempo?

   Ah, o tempo!

   E quando o nosso tempo parar de vez? O que poderemos dizer que vimos dessa vida? Tempos perdidos valerão a pena? Cada tempo foi aproveitado de forma única? Ou o nosso tempo será apenas um tempo qualquer que se passou e não valorizamos cada segundo que nos foi dado de presente?

   Tem horas em que o tempo voa e não conseguimos acompanhá-lo, mas tem horas que frações de segundos parecem uma eternidade.

   Ah, o tempo!

   Preciso aprender a conviver com o meu tempo. É a única saída que me resta, buscar uma perfeita harmonia em nossa relação. Escravo do tempo me rendo à sua ação e espero quê novos tempos ele prepara pra mim...


   Tempo, tempo, tempo... Ah, o tempo!!!


Por Deyvid Guedes em 26 de setembro de 2011